Sou de um azul tenuamente brilhante.
Para além de mim, existo.
Sei saltar livremente por entre os buracos profundos do meu ser.
Brilho longe do mundo cruel que me foi arrancado.
Horrivelmente solta da realidade sou livre.
De tudo.
E de nada sou.
Até já.
O dia escurece. Longo. Lá vai um carro. Coberto de neblinas e gotas de chuva. Indiferente. Passa outro. Uma melancolia exacta. Degredo de uma rotina eterna. Sem escapatória. Para sempre. Carros, pessoas, dias, nuvens e chuva ou Sol. Tudo passa. Tudo me percorre a vista e se liberta em seguida.
Estou á janela. Deixo-me ficar. Quieta. Calada. Observo apenas o constante reboliço na avenida. Só. Era manhã. Agora é noite. Logo será manhã. No fim disto virá o inicio. Vem sempre. Nada se perde nesta intrusão de confissões sem dono. Não pára de chover. Será chuva ainda assim? Mês de reboliços notórios. Pessoas apressadas que me desprezam. Que me abandonam com longos passos. Digo-lhes timidamente adeus com o receio de ser vista. Ouvida. Estendo um braço e deixo as sensações deste mundo. Levanto-me. Estou cansada de os olhar. E ao tempo. E de nunca o sentir. Fecho a janela e atrás de mim deixo o escuro véu que se escapou do céu. Começo a andar numa lentidão que nem eu conheço. Abro a porta. Embrenho-me nesse mesmo véu. Já não o temo. Suspiro.
Até logo.
O que leva as pessoas à maldade? Serão as circunstâncias, a solidão? Não sei. Cada vez acredito menos nos outros. As razões são variadas. Tal leva-me a uma inundação de tristeza e desagrado perante a vida. Será assim para sempre? Serei obrigada a viver debaixo desta chuva de recriminações que ostensivamente cai?
Quando somos pequenos confiamos em toda a gente. Mesmo naqueles que nunca vimos. Hoje, com os meus miseros 18 anos confio em mim apenas e até assim tenho alguns receios. Não me julguem. Creio não estar sozinha nesta malfadada questão. A verdade é que estamos todos sós e tristes. Não há como fugir a tal regra imposta pela sociedade. E o pior é a consequência. A ruindade que se aprofunda quando nos sentimos desamparados. E depois o alvo são aqueles que não conhecemos nem temos interesse em tal.
Se somos um pouco diferentes, o rotulo é de totalmente diferentes. Se temos uma maneira de pensar que se desvia aos padrões comuns então o melhor é ficarmos calados. E assim vivemos. Saímos à rua e somos confrontados com pensamentos ridiculos como: será que estou bem vestida? O que vão pensar hoje de mim? O que digo? Enfim...
A verdade é que a sociedade está construida para nos perdermos na vida dos outros. Deixamos de ser nós e de viver segundo as nossas convicções para sermos os outros a tempo inteiro. A viver como eles querem. Será medo? Será falta de orgulho? Seja qual for a razão, o facto é que nos esquecemos de nós.
Mas chega! Basta de criar filosofias baratas sobre o que os outros são. Cada um segue a sua vida. Se um dia me apetecer sair à rua vestida de uma maneira diferente vou fazê-lo. E vou orgulhar-me disso. Sou diferente E depois? Que mal tem isso? Que crime terrivel terei eu cometido para me olharem não com indiferença mas com pena, com escárnio e com um sentimento de gozo? Desprezem-me. Ao menos assim a vossa vida não segue as linhas da minha. E serei então realmente indiferente aos vossos olhos. Sejam genuinos. Seja vocês e esqueçam-me. Lembrem-se de mim apenas quando me quiserem ver realmente e conhecer. Até lá...
Perdoem-me o grau de intolerância mas de facto há situações que me levam a reorganizar o pensamento em relação ás pessoas.
Um grande bem haja.
Caty.
Andamos por este mundo fora, questionando. Criamos expectativas cada vez mais altas e depois dá-se a grande queda. Diariamente, somos confrontados com ideias, revoluções, manifestações ou até silêncio e inércia. Seja como for, tudo fazemos para superar a vida, os outros. Oportunidades? Temos algumas é certo. Por vezes é difícil agarrá-las mas tentamos. É humano perder as forças. É sobrenatural recupera-las. Os fanáticos dirão que os que roçam os joelhos no chão são fracos. Que apenas os que lutam (não importando como) são heróis. Cepticismos á parte, não acredito. Ninguém supera ninguém. Essa mania traumática de catalogar a sociedade chega a ser doentia. Acreditem que serão reconhecidos no fim. Talvez não por alguém de “cima” mas por vocês. Não há nada mais puro do que o orgulho em nós. Deixar de acreditar, duvidar ou perder a fé é legítimo. Nem que seja por instantes, acontece. Só isso fará com que a fé se restabeleça. Nada se pode ganhar sem se perder. Vejam isto como uma lei. Não podemos escapar. E olhem, ainda bem. Ao menos valorizamos alguma coisa: nós.
al berto. poesia. prosa. desabafos.
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