Perdi a minha identidade. Não estou a brincar! Não faço ideia onde possa ter ficado. Lembro-me que procurei por todo o lado. Pensei tê-la visto perto do rio. Retomei a procura. Até hoje, não faço ideia por onde andou. Felizmente para mim, acordei para a esquerda e lá estava. Mal tratada, espezinhada. Tinha rasgos no rosto e um ar triste e negro. Fiquei com medo que morresse. Mas acreditei na força da minha identidade e posso assegurar-vos que está saudável e já brinca comigo.
Por vezes, esconde-se. Deixo-a estar. Aprendi a conviver com ela. Não é timida. Não gosta de pessoas vaidosas. O problema é ela fazer-me rir. É um pouco mal educada, sempre a falar alto, sem medo do tempo. Não parece ter qualquer ligação a mim. No entanto, pertencemo-nos. Não é, por isso, estranho que ela tenha fugido enquanto lia a definição de solidão. Voltou destroçada, com saudades. Sem limites.
Quando nos conhecemos, desprezava-me. Depois, sei que não gostou de mim. Do meu "ar de arrogância, com manias de timida e problemas de calada..."
Renunciava epigrafes, detestava poesia. Hoje, finalmente domesticada, lê todos os dias para mim. Respeita o inicio de cada pensamento. Estranho, deitada no chão, o desassossego com que inicia a canção. Introduz a frase, acrescenta a vírgula, esquece os pontos finais. Por vezes, calo-a. Cansam-me os seus exagerados histerismos que sou incapaz de reproduzir. Ela a face e eu... A face. Nem como opostos nos atraímos e, no entanto, não deixamos de estar uma na outra.
Somos, assim, políticamente incorrectas e abreviamos maus pensamentos. Somos simples no sentir, rápidas no responder e cruéis no divulgar.
Até ao próximo dia de Sol.
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