Segunda-feira, 27 de Junho de 2011

 

                                                    

 


Afinal o que importa não é a literatura nem a crítica de arte nem a câmara escura 
Afinal o que 
importa não é bem o negócio 
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio 
Afinal o que 
importa não é ser novo e galante 
- ele há tanta maneira de compor uma estante 
Afinal o que 
importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício 

e cair verticalmente no vício 
Não 
é verdade rapaz? E amanhã há bola 
antes de haver cinema madame blanche e parola 
Que afinal 
o que importa não é haver gente com fome 
porque assim como assim ainda há m
uita gente que come 

Que afinal 
o que importa é não ter medo 
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente: 
Gerente! Este leite está azedo! 
Que afinal 
o que importa é pôr ao alto a gola do peludo 
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! 
– rir de tudo 
No riso admirável 
de quem sabe e gosta 
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra 


 

Mario Cesariny

 


Sinto-me sentada numa pastelaria.

publicado por Caty. às 17:28 | link do post | comentar

Sexta-feira, 24 de Junho de 2011

 

Um dia não tinha nada em que pensar e perguntei: porquê? Logo me responderam, controversos e irritantes: Porque não?

Que maldição! Será possível que não exista solução para o meu problema? Passo a contar-vos a razão da minha pergunta. Quando temos dúvidas e queremos alcançar o silenciado verso da questão perguntamos ao mundo "porquê?"

Ora, o que conta é mesmo a pergunta. A reflexão e a disponibilidade de, sozinhos, numa varanda sem luz a ouvir o vento roçar nas folhas da árvore, vaguear na indeterminada vontade de não saber a resposta. Assim que ela aparece deixa de ser importante. Falta de forças e de desejos de continuar invadem a alma serena. Ah, se um pensamento mais persuasivo me ocupasse a vida como a pergunta me ocupa o momento, era eu alma contente e completa. Mas, sem razão aparente, sou eu mais um porquê milagroso que se pergunta e remove ânsias de dúvidas que navegam em caixões de madeira gasta. Sim, meus caros, morro de medo e tédio que a solidão da questão me torne obssessiva ao ponto de perguntar: porquê? Sim, porquê esta tamanha necessidade de ler nas entrelinhas de uns lábios selados a ouro?

Se retomar, algum dia, a tal varanda nefasta, acudam-me. Perdi o discernimento e já me questionei sobre a vida, sobre vocês e sobre mim. Sobre o ser Humano, sobre o ser Animal. Sobre o ser vida. E aí desmaiei, sem forças para responder: Porque sim.

 

 

 

Caty.


Música: Edith Piaf - La Foule.
Sinto-me a saltar de nuvem em nuvem.

publicado por Caty. às 23:42 | link do post | comentar

Terça-feira, 14 de Junho de 2011

 

Se levemente me tocasses os olhos. Se sorrisses qual alegria fascinante. Se, ao menos, eu pudesse subir a já antiga escadaria de mármore talvez, sim talvez, eu encontrasse paz.

Mas, num decifrar que não perdura, eu crio marcas na areia. Suspiro, perdendo o repentino ataque de alegria. Esse, voando na minha frente, aproxima-se das estrelas e revela-se inútil aos meus passos. Deixo-me cair, sem réstia de força, na areia branca. Marco presença entre as pegadas de desconhecidos. Pergunto-lhes o nome e eles respondem olhares de ternura como se eu fosse deles. E retiro-me. Para mais tarde me apoderar do longo areal que me espera.

 

 

 

Caty.


Sinto-me com alegria.
Música: Yann tiersan - La Plage

publicado por Caty. às 00:30 | link do post | comentar

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