Sábado, 1 de Setembro de 2012


Anna Karenina é um romance. Não enquanto livro gigantesco mas enquanto obra prima que traduz os mais profundos sentimentos do ser humano. É a história de uma mulher dividida entre o sagrado casamento e o sagrado amor. Talvez uma história demasiado épica para uma heroína tão simples como Anna Arkadievna Karénina.

Tolstoi mostrou, num acto de pura genialidade, o que significa escrever. O que entende por trazer as personagens até ao leitor. Leio e a cada instante encontro Anna sentada à minha frente com Tânia brincando com o seu anel. A cada palavra de Tolstoi recupero o folego de um momento arrebatador entre Anna e Vronski para novamente mergulhar no que considero a inteligência da simplicidade. Anna Karenina é talvez o romance mais puro, mais suave e, ao mesmo tempo, mais grandioso da época.

Apenas me custa a imaginar uma Anna Karenina que se apresenta moderna, toda ela transpirando sensualidade como se de uma personagem escrita hoje, em pleno século XXI, se tratasse. Tolstoi escreveu para sempre. Para ontem, hoje e amanhã. Mas conseguiu esse feito através da subtileza desta personagem. O que interessa na obra é o pensamento. O sentimento. Ou seja, é a realidade. E esta mostra-se sempre tão mal traduzida nos inúmeros filmes que pretendem uma semelhança (ou será afastamento?) ao romance. Que errados me parecem ser os esforços de transportar Anna Karenina aos leitores de hoje mostrando técnicas de realização diferentes, os detalhes sórdidos que menos importam. O autor descreve-a como alguém “que sobressaía sempre do vestuário, que nela o vestuário nunca poderia ser notado. E o vestido preto, apesar das abundantes rendas, era apenas a moldura, e só ela era visível, simples, natural, elegante e ao mesmo tempo alegre e animada”.

Quanto mais recente é o filme, mais distante da obra se torna. Como se apenas Greta Garbo tivesse compreendido o que existe na personagem. Como se ela encarnasse a verdadeira Anna Karenina de Tolstoi, recolhendo em si os pontos fulcrais daquela misteriosa personagem. E entristece-me saber que o romance mais bonito que li até hoje caiu nas garras cruéis de mentes que não se aperceberam que Anna é a Deusa da descrição. Do sofrimento suave. Do horror e do escândalo silencioso. Anna Karenina não é uma obra épica. É uma obra sentimental, real e, por isso, poderosa. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Greta Garbo em Anna Karenina



publicado por Caty. às 21:22 | link do post | comentar

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