O mundo é cego. Escuro, sombrio e quieto.
As pessoas desfazem-se em vazios. Como se nada lhes pertencesse. Como se não quisessem conhecer os outros. Somos fracos e nunca francos. Somos egocêntricos, desumanos e cruéis. E quantos de nós se perguntam: o que fiz eu de errado hoje?
O que interessa? O objectivo pessoal, o olhar para dentro, o nunca sair da linha que nos leva à meta. O outro que espere. O outro que morra de fome, de tristeza, de tédio. O outro que não exista. Somos tristeza. Somos fracasso. Somos apenas isto. Não vemos nem queremos ver.
Mas porquê? Desde quando nos deixámos de conhecer? De saber quem caminha ao nosso lado? Nunca lhe perguntamos o nome. Nunca queremos saber de onde vem. Para onde vai. A solidão foi criada por nós. Cegos, empurrámos a solidão para o outro. Desdenhámos a sua companhia. Não lhe respondemos, não nos preocupámos. E, um dia, soubemos que morreu. Que mudou de casa. Que fugiu do mundo. E questionamos a sua existência. Mas nunca questionamos a nossa própria existência. Somos sozinhos e nunca tornámos isso uma filosofia. É um questão de vaidade? De necessidade? Ou puro egoísmo?
Não compreendemos a dimensão da humanidade, então. Achamo-nos eternos e não aproveitamos o interior, a dádiva e o conhecimento de quem se senta ao nosso lado na paragem de autocarro. Não nos interessamos por quem está na fila do supermercado. Voltamos para casa e vivemos intensamente o nosso mundo. Como se só ele valesse a pena.
E, então, somos apenas momentos. Imagens que vaguearam por este mundo. Todos nós: os ignorados e os ignorantes.
Caty.
Tenho sido perseguida por um barulho. Um tambor, talvez. Uma trovoada. Como se eu fosse essa trovoada. Como se, lá longe, se adivinhasse o futuro. E eu, aqui sentada, não o percebesse. Aproxima-se, a passo lento, carregado. E eu aqui sentada. Sem me aperceber que o mundo vai acabar.
De repente. Sem que me comova, cresça ou renasça, o mundo redescobre-se. E eu, já não aqui sentada, entrego-me à deliciosa noção da vida. À melancolia. Ao ócio, atrevo-me. E para quê? A noite chega e tudo irrompe nesse pessimismo doentio. Tudo se transforma novamente. É o cansaço da vida. O horror de ser e não ser e voltar a ser. Tudo porque nunca sou. Nunca poderei ser quando nada me prende ao mundo. Voltei a estar aqui sentada. Sentada, apenas.
Caty.
al berto. poesia. prosa. desabafos.
anna karenina. desabafos. literatura. ci
ego. grito. coragem. desabafo.
mudança. desabafos. ego. coragem.
revolução. desabafos. grito. silêncio.
silêncio. ego. paisagem. lá fora.