Quarta-feira, 27 de Março de 2013

 

O mundo é cego. Escuro, sombrio e quieto.
As pessoas desfazem-se em vazios. Como se nada lhes pertencesse. Como se não quisessem conhecer os outros. Somos fracos e nunca francos. Somos egocêntricos, desumanos e cruéis. E quantos de nós se perguntam: o que fiz eu de errado hoje?

O que interessa? O objectivo pessoal, o olhar para dentro, o nunca sair da linha que nos leva à meta. O outro que espere. O outro que morra de fome, de tristeza, de tédio. O outro que não exista. Somos tristeza. Somos fracasso. Somos apenas isto. Não vemos nem queremos ver.

Mas porquê? Desde quando nos deixámos de conhecer? De saber quem caminha ao nosso lado? Nunca lhe perguntamos o nome. Nunca queremos saber de onde vem. Para onde vai. A solidão foi criada por nós. Cegos, empurrámos a solidão para o outro. Desdenhámos a sua companhia. Não lhe respondemos, não nos preocupámos. E, um dia, soubemos que morreu. Que mudou de casa. Que fugiu do mundo. E questionamos a sua existência. Mas nunca questionamos a nossa própria existência. Somos sozinhos e nunca tornámos isso uma filosofia. É um questão de vaidade? De necessidade? Ou puro egoísmo?

Não compreendemos a dimensão da humanidade, então. Achamo-nos eternos e não aproveitamos o interior, a dádiva e o conhecimento de quem se senta ao nosso lado na paragem de autocarro. Não nos interessamos por quem está na fila do supermercado. Voltamos para casa e vivemos intensamente o nosso mundo. Como se só ele valesse a pena.

E, então, somos apenas momentos. Imagens que vaguearam por este mundo. Todos nós: os ignorados e os ignorantes.

 

 

Caty.



publicado por Caty. às 21:51 | link do post | comentar

Sábado, 9 de Março de 2013

 

Tenho sido perseguida por um barulho. Um tambor, talvez. Uma trovoada. Como se eu fosse essa trovoada. Como se, lá longe, se adivinhasse o futuro. E eu, aqui sentada, não o percebesse. Aproxima-se, a passo lento, carregado. E eu aqui sentada. Sem me aperceber que o mundo vai acabar.

De repente. Sem que me comova, cresça ou renasça, o mundo redescobre-se. E eu, já não aqui sentada, entrego-me à deliciosa noção da vida. À melancolia. Ao ócio, atrevo-me. E para quê? A noite chega e tudo irrompe nesse pessimismo doentio. Tudo se transforma novamente. É o cansaço da vida. O horror de ser e não ser e voltar a ser. Tudo porque nunca sou. Nunca poderei ser quando nada me prende ao mundo. Voltei a estar aqui sentada. Sentada, apenas.

 

Caty.



publicado por Caty. às 20:01 | link do post | comentar

Março 2014
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1

2
3
4
5
6
7
8

9
11
12
13
14
15

16
17
18
19
20
21
22

23
24
25
26
27
28
29

30
31


posts recentes

Onde é o Outro?

Maldita Normalidade.

Há dias assim.

"Je cherche mon amour"

"No dia em que fiquei ceg...

A vigilante luz do passad...

Todos.

Ser Vitoriana.

Escrever.

Vagueia...

Arquivo.

Março 2014

Janeiro 2014

Abril 2013

Março 2013

Fevereiro 2013

Janeiro 2013

Dezembro 2012

Outubro 2012

Setembro 2012

Julho 2012

Abril 2012

Fevereiro 2012

Janeiro 2012

Novembro 2011

Outubro 2011

Setembro 2011

Junho 2011

Março 2011

Fevereiro 2011

Janeiro 2011

Dezembro 2010

Setembro 2010

Agosto 2010

Julho 2010

Junho 2010

Maio 2010

Março 2010

Fevereiro 2010

Janeiro 2010

Dezembro 2009

tags

al berto. poesia. prosa. desabafos.

anna karenina. desabafos. literatura. ci

baloiço. ego. desabafo.

cavalo. lusitano. desabafo.

desabafos.

desabafos. admiração.

desabafos. intimismo. eu.

ego. desabafo. gritos.

ego. grito. coragem. desabafo.

ego. saudade.

fado. pensamentos.

gritos.

humildade. justiça. desabafo.

identidade.

intimismo

literatura.

literatura. virginia woolf.

mudança. desabafos. ego. coragem.

pensamentos.

revolução. desabafos. grito. silêncio.

silêncio. ego. paisagem. lá fora.

todas as tags

blogs SAPO
subscrever feeds