Segunda-feira, 10.03.14

 

Não consigo compreender o porquê de nos tornarmos dependentes dos outros. Como se a nossa vida não fizesse qualquer sentido quando estamos sozinhos. Precisamos da atenção, das palavras dos outros. É tão estranho, tão absurdo. E o mais estranho é sabermos que os outros não nos querem, não se importam. Cada vez mais as pessoas vivem no seu mundo, sem preocupações com os outros. Tão terrível, a sensação de estarmos sozinhos mesmo quando estamos rodeados de pessoas.

Sinto-me triste, desolada. Quase em lágrimas. Só de imaginar que, um dia, quando desaparecer, todos vão ultrapassar a minha não-existência. Talvez exista algum desapontamento, alguma tristeza da parte deles. Mas tudo isso vai passar com a célebre frase: "ela queria que seguisses com a tua vida". Não, não queria. Não quero. Quero que as pessoas se lembrem de mim. Que pensem que a vida delas mudou no momento em que parti. E isso não vai acontecer. Porque se vão defender do sofrimento. Porque vão querer esquecer-me já que não estou perto delas. E eu? Onde fico eu no dia em que ninguém se lembrar de mim? No dia em que ninguém chorar o meu desaparecimento?

O mundo está criado a pensar no Eu. Já ninguém se importa se estás feliz, triste, com problemas. Ninguém quer saber. Bem fingem. Porque esse fingimento os faz sentir-se bem. Sentem-se melhor, pessoas mais dignas, ao dispensarem um pouco de atenção aos problemas dos outros. Mas ninguém pensa realmente nisso. Ninguém se empenha realmente no outro.

As pessoas apaixonam-se três, quatro, cem vezes. E todas as vezes anteriores são esquecidas. Será que deixámos de ser Pessoas? Será que já não nos interessa que o outro faça parte da nossa vida. Queremos esquecer tudo: os maus momentos, os problemas, as pessoas. Não queremos lembrar que já fomos infelizes com determinada pessoa. Não queremos lembrar que choramos. Mas não faz isso parte da vida? Não fazem essas pessoas parte da nossa vida? Então, para quê esquecê-las? Se, por um lado, somos demasiado dependentes das pessoas, por outro, não queremos saber delas. Lá está: essa dependência não é por gostarmos muito de alguém. Simplesmente não queremos sentir a solidão, esse terrível bicho-de-sete-cabeças que nos atormenta dia e noite quando o telefone não toca e ninguém nos pergunta: então, como estás hoje?

A vida é uma montanha russa de procedimentos errados. As nossas perspectivas estão cada vez mais egocêntricas. Estamos cada vez mais obcecados connosco. Cada vez mais fechados. Já não sentimos amor pelo outro. Já não nos importamos. Há quem diga, num gesto que me choca brutalmente por ser tão óbvio, que têm “os seus próprios problemas para resolver” e, por isso, não podem “perder tempo com os problemas dos outros”. Chegamos a um ponto em que a Humanidade podia morrer e ninguém daria por falta dela. Estamos naquela fase em que o mundo se auto-destrói simplesmente porque não olhamos para o lado, porque o que está ao nosso lado não retém a nossa atenção. Fechamos os olhos à miséria do outro porque nos importa apenas a nossa própria miséria. Quando é que nos tornámos tão frustrantemente egoístas? Quando é que nos tornámos tão horríveis?

Talves um dia a minha fé na Humanidade seja restaurada. Um dia.

 

 

 

Caty.


Sinto-me Em processo de cura

publicado por Caty. às 12:57 | link do post | comentar | ver comentários (2)

Segunda-feira, 20.01.14

 

Ás vezes é difícil. Sem dúvida que é difícil. E eu poderia dizer: se fosse fácil não tinha graça. E não tinha. Mas também não tem graça quando é difícil.

Não vos acontece sentirem-se isolados? Propositadamente isolados? Quererem o mundo mas repudiarem o Mundo?

Há dias difíceis. Há dias impossíveis. E nesses dias não escrevo. Não como. Não falo. Fico quieta no canto da sala a roer as unhas em desespero. Nunca sei como reagir à vida quando os dias são difíceis. Talvez devesse gritar? Mas para quem? Quem, de facto, me ouve senão eu própria, egocêntrica e mesquinha?

Estou só. Nunca sozinha. Mas sempre Só. Deixo-me levar pelo mundo, pelas cores maravilhosas do mundo. Mas estou só. Não tenho vontade de chorar porque isso é dos outros. Para os outros. Chorar não é ser fraco. É ser público. É ser do Mundo e eu não quero. Por isso, mordo o lábio. Oh, como gostava de ser gente. De ser incógnita. De ser igual a vocês. Tão simples como um café pela manhã. Tão despreocupada. Certamente abandonaria o meu canto da sala. Sentar-me-ia no sofá, embrulhada em mim e em vocês. Mas estou só. Ninguém me atinge e enfraqueço quando me tocam, quando me ouvem. Por que quero eu o mundo quando não o vejo, não o sinto? Por que quero eu viver se não amo a vida? Ah, tudo é tão dificil, tão entediante.

Há dias dificeis.

Há dias impossíveis.

 

 

Caty.


Música: Blue Moon - Ella Fitzgerald
Sinto-me De qualquer maneira.

publicado por Caty. às 17:09 | link do post | comentar

Quarta-feira, 27.03.13

 

O mundo é cego. Escuro, sombrio e quieto.
As pessoas desfazem-se em vazios. Como se nada lhes pertencesse. Como se não quisessem conhecer os outros. Somos fracos e nunca francos. Somos egocêntricos, desumanos e cruéis. E quantos de nós se perguntam: o que fiz eu de errado hoje?

O que interessa? O objectivo pessoal, o olhar para dentro, o nunca sair da linha que nos leva à meta. O outro que espere. O outro que morra de fome, de tristeza, de tédio. O outro que não exista. Somos tristeza. Somos fracasso. Somos apenas isto. Não vemos nem queremos ver.

Mas porquê? Desde quando nos deixámos de conhecer? De saber quem caminha ao nosso lado? Nunca lhe perguntamos o nome. Nunca queremos saber de onde vem. Para onde vai. A solidão foi criada por nós. Cegos, empurrámos a solidão para o outro. Desdenhámos a sua companhia. Não lhe respondemos, não nos preocupámos. E, um dia, soubemos que morreu. Que mudou de casa. Que fugiu do mundo. E questionamos a sua existência. Mas nunca questionamos a nossa própria existência. Somos sozinhos e nunca tornámos isso uma filosofia. É um questão de vaidade? De necessidade? Ou puro egoísmo?

Não compreendemos a dimensão da humanidade, então. Achamo-nos eternos e não aproveitamos o interior, a dádiva e o conhecimento de quem se senta ao nosso lado na paragem de autocarro. Não nos interessamos por quem está na fila do supermercado. Voltamos para casa e vivemos intensamente o nosso mundo. Como se só ele valesse a pena.

E, então, somos apenas momentos. Imagens que vaguearam por este mundo. Todos nós: os ignorados e os ignorantes.

 

 

Caty.



publicado por Caty. às 21:51 | link do post | comentar

Sábado, 09.03.13

 

Tenho sido perseguida por um barulho. Um tambor, talvez. Uma trovoada. Como se eu fosse essa trovoada. Como se, lá longe, se adivinhasse o futuro. E eu, aqui sentada, não o percebesse. Aproxima-se, a passo lento, carregado. E eu aqui sentada. Sem me aperceber que o mundo vai acabar.

De repente. Sem que me comova, cresça ou renasça, o mundo redescobre-se. E eu, já não aqui sentada, entrego-me à deliciosa noção da vida. À melancolia. Ao ócio, atrevo-me. E para quê? A noite chega e tudo irrompe nesse pessimismo doentio. Tudo se transforma novamente. É o cansaço da vida. O horror de ser e não ser e voltar a ser. Tudo porque nunca sou. Nunca poderei ser quando nada me prende ao mundo. Voltei a estar aqui sentada. Sentada, apenas.

 

Caty.



publicado por Caty. às 20:01 | link do post | comentar

Domingo, 03.02.13

 

Não posso nunca escrever em paz.

Talvez porque não a sinto. Ou porque ela não existe. No fundo, porque ela jamais me fará escrever.

Não sou nenhum verso oprimido. Muito menos uma folha frustradamente amachucada.

Talvez, sendo eu tão lenta a entender que sou infeliz, não poderei escrever enquanto a alma se afoga no leito dos meus olhos.

Talvez seja sensato não escrever.

Não falar.

Não pensar, até.

Quem sabe se viver não é reconhecer a impávida metamorfose do Ser.

Então, nesse desgostoso labirinto que é o infernal mundo desisto de escrever e vou dormir.

 

 

Caty.


Música: Jacques Brel - J'en appelle

publicado por Caty. às 19:19 | link do post | comentar

Quarta-feira, 30.01.13

Não sei o que é! Confesso que nunca me preocupei em ponderar sobre a ilusão. Talvez seja a idade, o calor da maturidade ou o simples cansaço da infantilidade. Quero sentir tudo e sinto tudo. A intensidade move-me e comove-me. Sou um cristal que chora a realidade de outros enquanto minha. “Sentir tudo de todas as maneiras” segreda-me Campos ao ouvido da consciência. Respondo-lhe que quero ser tudo de todas as maneiras. Ele sabe que sou tão Nada que só o vazio me pode preencher. São as verdades do mundo que me isolam até de mim. Sou de uma tão peculiar e nefasta visão que me aqueço na imagem de um peso morto. Sou uma Garbo que ri na sua impossibilidade deixada sozinha à beira do passeio. Sou, num subtil desaire, uma Woolf suicida. Sou eu, então, naquela comoção dos dias.



publicado por Caty. às 22:29 | link do post | comentar

Quinta-feira, 10.01.13

 

 

Ainda se escreverão cartas? Os poetas da vida talvez conservem a excentricidade do papel. Do envelope rasgado à pressa.

Há pouco tempo deparei-me (confesso que por distração. Um feliz acaso) com o mais recente trabalho de Ursula Doyle: "Cartas de Amor de Grandes Mulheres". Ainda hoje coro à lembrança de uma triste Josefina despedindo-se de Napoleão. Também me emociono ao recordar a tristeza subtil de Catarina de Aragão ao pressentir a sua morte, a sua desgraça. 

Grandes mulheres. Impedidas de concretizar em segundos as emoções da alma dedicaram-se a escrevê-las. 

Delicio-me com a espera a que se sujeitaram os corações. O que as separava dos seus eternos correspondentes eram dias de distância. Não resisto (num ataque poético) a pensar que talvez então o mundo fosse perfeito. Ou, pelo menos, mais contido. Cada palavra trabalhada, sentida, amargurada. Como se fosse um gesto . Um sussurro ao ouvido de quem lê. Tão diferente do agora. 

Quando o silêncio era companheiro, as grandes mulheres escreviam. Imagino-as sentadas, de pena em punho, cultivando a paixão, o desejo, a saudade ou a triste derrota. 

Essas grandes mulheres que, afinal, sempre foram grandes escritoras.


Música: Johann Strauss II - Kuss walzer

publicado por Caty. às 23:28 | link do post | comentar

Domingo, 15.04.12

Calada. Reservada. Tímida. Entre outros adjectivos, a minha definição é esta: falo pouco. Mas penso muito. Sempre. Sobre cada assunto. E mesmo assim insistem em dizer que sou apenas metade. Que funciono por inércia, por um sentido de não-presença. Que na verdade não existo. Devo comunicar-vos que existo na mesma medida que todos os outros. Sou completa na minha essência como qualquer outra pessoa. Não falo porque não encontro as palavras certas. Não respondo porque não me quero dar a esse trabalho. Mas penso e observo e sinto. Sou eu. Assim. Formei-me com os conhecimentos que tropeçaram em mim. Cresci e desenvolvi-me através dos caminhos que percorri, das histórias que ouvi, dos momentos que aconteceram. Sou mais do que o silêncio. Represento um todo que alberga esta ínfima parte de mim. Que parece gigante mas é reduzida. E quase insignificante. Sou, também, tudo o resto que não está à vista. 
E recupero o silêncio para pensar que é calada que as pessoas reparam em mim.

 

 

Caty.


Sinto-me Entre Ser e Estar.

publicado por Caty. às 16:36 | link do post | comentar

Domingo, 13.11.11

Sou apaixonada.

Creio na vida com a fé de um delinquente.

São os resquícios de um esquecer. As partituras cantam sós na chuva quente e mole que ameaça suicidar-se. Embalada pela música, creio nas vidas que crescem em árvores caídas de desgosto. Sou apaixonada, então, pela morte do querer. Do ser que era. Perco-me nas gotas de água que sinto baterem no chão. Os pés descalços na erva submersa. O trovão ao fundo e... Desapaixono-me pelas ocas palavras. Choro, explodindo de cores neutras que não passam de… Cores.

 

 

 

 

 

Caty.


Música: Dream a little dream of me - Ella & Louis
Sinto-me chuvosa.

publicado por Caty. às 22:36 | link do post | comentar

Sexta-feira, 21.10.11

O que sentes nos dedos é areia morta. Esse declinio de ser é paz. Quando o céu azul se abate sobre a mórbida frescura de já não ser, o barco dissolve-se na paisagem. O chão invisivel, onde outrora foste gente, cresce em rosas de porcelana. A sua inevitável queda parte-se em mil pedaços tristes. Sem cor. Então, sentas-te à beira-mar. Os pés nus, o coração despido. A mente vazia. Segues, indiferente. Desfolhando a vida agitada que corre nas tuas costas. Não sabes o mundo que desperdiças. Nem te interessa. És feliz no cume da montanha sonhadora. Ao olhares o céu vês o pássaro gigante que, em tempos passados, foi teu. A simplicidade dos gestos, a cor dos momentos, o prazer de estar. Tudo te é caro. Mas a genuidade de ser são violetas nos bolsos. É vida.



Caty. 


Música: Ella Fitzgerald - Misty
Sinto-me a perguntar algo ao mundo.

publicado por Caty. às 00:05 | link do post | comentar

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